O futuro das artes tradicionais
Guião para uma prática ativista
O futuro faz-se no presente. Com o passado. Com o que somos. Criando um novo tempo para os saberes ancestrais.
As artes tradicionais não têm de estar condenadas à sua conjugação no tempo passado. Despertadas apenas na memória ou em recriações etnográficas. Pedaços de história a ecoar de um lugar distante.
Acreditamos que agir pela sustentabilidade das artes tradicionais é legar no presente o seu futuro. Agora.
É parar com a contagem decrescente, a que assistimos nas últimas décadas, em compasso acelerado. Tanoeiro: extinto. Albardeiro: extinto. Canteiro: extinto. Latoeiro: um artesão com mais de 80 anos. Empreita: uma média de idades superior a 70 anos. Esparto, cestaria, tabua, tecelagem… os que se seguem na lista da iminente extinção.
É agir pela sua reativação na economia, num tempo em que o mercado desperta para o produto artesanal, carregado de história, produzido com materiais naturais e preceitos enraizados na cultura local. Em que a factualidade das alterações climáticas mostra à humanidade a necessidade de um consumo responsável.
É passar conhecimentos às gerações mais novas. Dar aos mais velhos a possibilidade de serem mestres e com isso prestar a nossa homenagem a uma vida de sabedoria e dedicação.
É valorizar os saberes artesanais apurados ao longo de séculos de prática. Retirar-lhe de cima o fardo de uma visão negativa e perniciosa da ruralidade e do trabalho manual.
É trazer inovação para o processo e para o contexto. Criar constantemente novas soluções que a mantenham atual, útil e apetecível.
É profissionalizar a atividade. A grande maioria dos artesãos das artes tradicionais algarvias é reformada, exerce esta atividade de forma complementar, e vê nela, acima de tudo, uma legítima função social, de ocupação dos tempos livres e realização pessoal. Comercializam os produtos nos mercados locais, sem fazer depender disso a sua economia. O facto de não refletirem no preço o devido valor da sua produção, inibe o processo de consciencialização do consumidor e atração de novos artesãos.
Temos dado um contributo, à nossa escala. Somos uma pequena empresa de turismo responsável que agarrou este projeto porque acreditou que valia a pena tentar. Afinal que lugar podemos esperar do interior algarvio, estando ele esvaziado de gente e de cultura? Que turismo responsável poderemos promover?
Neste momento podemos afirmar com satisfação que conseguimos ativar o ofício da latoaria formando 4 novos latoeiros (projeto realizado em parceria da autarquia de Silves e Junta de Freguesia de Messines com o apoio da EDP através do “Programa Tradições”). Em 2016 colaboramos com a Câmara Municipal de Loulé na conceção e desenvolvimento de um curso para formar e instalar novos caldeireiros (a oficina-loja encontra-se a funcionar na Rua da Barbacã em Loulé).
Fechamos o quarto ano de dinamização do TASA com um saldo positivo, com mais parceiros, clientes, produtos e projetos em colaboração.
E na entrada do novo ano daremos um passo ainda mais desafiante. Investiremos por nossa conta e com o apoio de patrocinadores privados, na capacitação de novos artesãos dos entrelaçados motivados para integrar a nossa equipa.
O nosso maior desejo para 2018 é ver no horizonte o futuro das artes tradicionais. E continuarmos a agir movidos por essa missão: que as técnicas ancestrais sejam efetivamente profissões com futuro.