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Das mãos de um mestre cesteiro das Furnazinhas

Cesta do pão - nocícias

Cesta do pão

Esta cesta para guardar pão, que recorre à arte da cestaria em cana algarvia, apresenta uma inovadora forma oval que não é habitual ver-se nos cestos tradicionais. Incorpora uma tampa no topo para resguardar e conservar o pão e duas pegas laterais de madeira que a tornam muito prática de transportar. É decorada com entrelaçados que formam um padrão geométrico inspirado nas platibandas e mosaicos algarvios. O seu interior é revestido a pano cru, que se retira e lava com facilidade. De dimensão generosa, convida a guardar os saborosos pães algarvios de tamanho familiar.

Artesão: António Gomes
Design: Proactivetur_ Joana Cabrita Martins  & Ana Rita Aguiar

O mestre cesteiro, do monte das Furnazinhas

O monte das Furnazinhas é berço de cesteiros formados pela necessidade e o engenho de gerações de antepassados. As lides rurais, a abundância de cana e a atividade piscatória exercida nas proximidades, criaram o costume entre os homens de aproveitar os tempos de descanso para fazer cestos e canastras.
António Gomes não foi exceção. Começou aos 7 anos a fazer cestos com o junco “que é mais fácil de trabalhar”. Mais tarde, atreveu-se com os companheiros a “enlear” (entrelaçar) a cana. Ele e os amigos viam os gestos repetidos dos mais velhos, e quando iam com os porcos aos barrancos, aproveitavam para rachar cana, fazendo e desmanchando até que tomavam o jeito, “porque isto não se aprende num dia, vai-se aprendendo”.

Mais velho começou a fazer o seu “pé de meia” à conta das canastras que vendia a “10 tostões” aos pescadores. “Cheguei a fazer 24 numa noite, eu e um companheiro, à luz do candeeiro de petróleo”. Foi assim que levou 300 escudos para Moçambique onde fez o serviço militar. Retornado, foi marceneiro, mecânico e manobrador de máquinas “de arrasto” no campo.
Quando os plásticos invadiram a nossa vida, os cestos em cana tornaram-se apenas uma entretenha e uma teima de quem não perde o gosto à arte.

No final dos anos 80, António Gomes foi formador num curso em Castro Marim onde ensinou um grupo de jovens mulheres. Foi uma experiência inesquecível, mas a única que teve na área do ensino. Atualmente o seu envolvimento com o artesanato, limita-se aos “mercados do Castelo” de Castro Marim, onde por vezes apenas vende um cesto.

Quando a Joana Cabrita e a Ana Rita Aguiar apareceram no “monte” das Furnazinhas, foi uma revolução. O mestre Gomes readquiriu o entusiasmo do desafio de fazer algo diferente e de voltar a relacionar-se com a “malta mais jovem”. Mas não foi só ele. Sempre que elas chegam, a vizinhança entra na oficina do cesteiro para observar os avanços e opinar sobre os resultados. Aproveitam para contar histórias dos outros tempos e comprovar na emoção com que falam, a magia deste lugar tão singular.
Esta cesta do pão tem a mão do mestre Gomes em tudo. Fez e desmanchou as voltas da cana as vezes que foram precisas para que o cesto ficasse com a forma atipicamente oval, o tamanho certo, a reprodução exata do desenho. Reportando aos seus saberes de marceneiro construiu as asas da madeira. Com a sapiência da ruralidade, enrolou a fibra de pita para fazer a corda que prende a tampa.
A expressão do mestre cesteiro ao olhar para a sua obra é de visível alegria. “Gosto de fazer estes inventos, e de saber que esta cesta que estou a fazer vai para o Porto”, afirma com orgulho e humildade. E também é isto que nos dá alento para continuar com este projeto. Um bem haja ao monte das Furnazinhas e à sua extraordinária gente.

Projeto TASA – Técnicas Ancestrais Soluções Atuais
  • PROMOTOR:
    CCDR
  • GESTÃO DO PROJETO:
    ProActive Tur
  • APOIOS:
    Algarve 21