Residência Criativa faz nascer 4 novos produtos com a essência do TASA
Numa semana intensa de residência criativa, oito designers portugueses e estrangeiros juntaram-se a 5 artesãos algarvios e criaram 4 produtos que respondem a desafios lançados pelo mercado. A tradição e a inovação estão lá. A ligação entre o artesanato e o design também. Os materiais endógenos e as técnicas ancestrais. A beleza e a funcionalidade.
Da sinergia criada entre as gerações, os saberes, as disciplinas e as culturas resultaram:
A Pinga – um corpo elegante para as caixas de vinho
A Chi^mni – da chaminé algarvia a um espantador de pássaros
A Tarra – para o computador, na bicicleta ou no ombro
A Tia Anica – a companheira do caminhante
A ideia era ambiciosa. O desafio parecia impraticável. Trazer jovens designers de produto ou equipamento portugueses e estrangeiros, pô-los a trabalhar em equipas multinacionais de dois elementos, dar-lhes um “briefing” com as sugestões do mercado, ocupar as oficinas de artesãos algarvios e desenvolver com eles protótipos de produtos prontos em 6 dias para serem apresentados ao público…
Apareceriam candidatos interessantes e em número? Conseguiriam trabalhar em equipa num produto? Entenderiam a essência do Projecto TASA e num tão curto espaço de tempo conseguiriam transportá-la para as soluções idealizadas? Os artesãos iriam aderir às ideias? Haveria abertura e vontade em experimentar até encontrar a solução ideal? Seria possível moldar, tecer, aplicar, cortar, cozer… as peças? Os resultados iriam agradar?
Todas as dúvidas foram respondidas com um rotundo “sim”. Não foi apenas um sim grande, mas um sim que encheu de orgulho todos os que participaram, desde logo os jovens designers, os artesãos e a equipa.
A metodologia revelou-se bem preparada e conduzida, é certo, os candidatos foram bem selecionados, também é um facto, mas os imponderáveis vários da dinâmica relacional (que nunca chegamos a controlar totalmente) estiveram a favor. Houve um excelente clima de trabalho. Um rigoroso cumprimento do programa (“não foi à portuguesa”, comentou-se). Mas acima de tudo, uma boa relação entre as equipas de designers e com os artesãos. Abertura ao intercâmbio de conhecimentos, saber ouvir o outro, observar a cultura do lugar, o modo de trabalhar os materiais, respeitar os mais velhos e os mais novos, querer inovar e não desistir até encontrar a solução…. Foram esses os imponderáveis-favoráveis que marcaram o clima da semana de trabalho de 21 a 26 de outubro de 2013.
A Andreia Rocha e o Érico Branco, uma portuguesa na Holanda e um brasileiro na Suécia, trabalharam com a D. Cremilde, a artesã da empreita de Palmeiros (Loulé) na criação da mala do caminhante. A D. Cremilde é uma sábia que diz que não sabe nada porque não foi além da 4ª classe. Repetimos vezes sem conta que se engana mas ela sorri só para nos agradecer a gentileza. Quem a ouve, fica estarrecido com a imensa bondade e verdade das suas palavras. Os jovens apaixonaram-se, pelo carácter, pela hospitalidade e pelo aprumo que dá ao detalhe. Chamaram à mala Tia Anica, mas na verdade ela é a D. Cremilde, nos pormenores e acabamentos. A Tia Anica transporta o profundo respeito, partilha e entendimento que resultaram numa efetiva e afetiva criação a três.
Yelena Tyo e Joana Regojo, uma cazaquistaneza e uma luso-espanhola escolheram a missão de espantar pássaros indesejados das hortas e varandas de quem se dedica a pequenas hortas e jardins. De forma natural, claro. Nas suas deslocações pela região observaram e apaixonaram-se pelas chaminés algarvias. Perceberam que havia diferentes padrões e acabamentos, que cada chaminé comunicava uma identidade própria. Investigaram o suficiente para perceber que os pássaros não gostavam de determinados sons e movimentos. Escolheram a cana e, por sua vez, a Ana Silva e rumaram a Messines para inventar com ela a Chi^mni, um mecanismo feito com cana e barro vidrado de diferentes cores que repele os pássaros mas atrai o nosso olhar. A artesã da cana não se vergou às incontáveis tentativas de chegar à solução e transformou as designers em artesãs. E elas gostaram. As três.
A Vanda e a Isabel, uma eslovaca e uma nortenha (de Portugal), dedicaram-se ao vinho. Na mesa portuguesa, seja em casa ou no restaurante, não falta uma boa pinga, mas aquela caixa que lhe serve de invólucro não é a mais elegante. Criar um contentor para caixas de vinho, eis o desafio! As designers estudaram as antigas formas de armazenar e transportar o vinho. Associaram-nas aos materiais tradicionalmente amigos deste néctar: a cortiça e o barro. Trabalharam com o oleiro, o Pedro Piedade (de Loulé), o António Luz, o artesão da cortiça de São Brás de Alportel e com o sul-americano mais algarvio de Loulé, o Zuñiga, que se dedica ao cabedal. Cada um com o seu estilo e método do trabalho, o par multinacional adaptou-se e repetiu ensaios até chegar à “Pinga”. Na versão alta ou mais baixa, é um contentor feito de barro e cortiça com uma alça de cabedal que serve para esconder os pacotes de vinho de 3 ou 5 litros. Mas apetece colocar esta “pipa” elegante no ponto mais nobre do balcão do restaurante ou da mesa de refeição. E saúde!
A Sandra Louro e a Ana Rita são ambas portuguesas com experiências internacionais. Juntaram-se para criar a solução para quem quer levar o seu computador portátil na bicicleta de forma segura e elegante. Mas foram mais além, tornaram esta mala de computador para bicicleta versátil e pronta a ser levada a tira-colo. Inspiraram-se na tarra, uma marmita tradicional feita de cortiça. Pedalaram muito com o António Luz até chegarem à forma de caixa. Trocaram muitas ideias com o Zuñiga sobre como fechá-la e pô-la transportável. Passou por muitos estudos, idas e vindas aos artesãos até que encaixou como uma luva. A Tarra combina a natureza impermeável e amortecedora da cortiça com a suavidade e elegância do cabedal. Apetece transportá-la pelo mundo.
Agora que os designers e artesãos da residência criativa trouxeram os novos produtos TASA ao mundo, é altura de estudar encargos, tempos de produção, mercado, e adaptar cada uma das peças às soluções mais ajustadas para que tenham uma boa aceitação.
Mas nada nos tirará o orgulho de ver a essência do Projecto TASA em cada um dos 4 produtos e neste jovens que podem agora disseminá-la aquém e além fronteiras. A eles, aos artesãos, à Câmara Municipal de Loulé que os acolheu no Cecal, lhes deu abrigo, alimentação e transporte, à CCDR Algarve nossa parceira, à Casa da Cultura de Loulé e ao Cria que apoiaram a iniciativa, o nosso Obrigado. É para repetir.