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Histórias vivas na memória de Alcoutim, para inspirar

Alcoutim, tal como outros concelhos, é um repertório vivo de memórias associadas às artes e ofícios. As pequenas povoações deste vasto concelho nordeste algarvio, são testemunhas de um passado ainda muito recente, em que as comunidades se provinham dos artefactos necessários às lides rurais, recorrendo aos recursos naturais mais abundantes, ou àqueles oriundos da atividade mercantil que por ali se fazia. Ambos, lugares e habitantes, estão povoados de objetos carregados de histórias e de histórias guardadas na memória dos seus atores.

As principais artes tradicionais que marcaram a produção artesanal desta região no século passado foram a olaria, as artes do metal, a tecelagem e a cestaria. Tal se deve aos recursos disponíveis e também às necessidades associadas à atividade rural e à época.

A tradição oleira era estimulada pela presença de terrenos ricos em argila. Martinlongo, importante freguesia do concelho, foi um dos principais centros oleiros até à década de sessenta do século XX, chegando a haver doze fábricas de louça de barro e cerca de trinta oleiros. Hoje, resta apenas uma olaria praticamente pronta a funcionar à espera de quem queira retomar esta atividade

Fazendo parte do quotidiano rural, o metal servia como matéria-prima para inúmeros artefactos, sobretudo, alfaias, ferraduras, e utensílios domésticos.

Fernando Colaco (2)

A latoaria, dedicava-se à elaboração ou reparação de objetos produzidos em chapas de estanho ou zinco. Pelo que referiu um antigo latoeiro de Martinlongo, produziam-se alguidares, tachos para cozer tremoços, almotolias, regadores, potes de azeite, candeias, cataventos, moldes para fazer filhós, cântaros e caldeirões para a água e funis. Não faltou trabalho, até surgir o plástico.

Na memória dos alcoutenejos, regista-se a presença fortemente marcada de artífices do ferro, representadas nos ofícios do ferreiro e do ferrador. O ferreiro forjava ferro para fazer variados objetos, na maioria alfaias, balanças e ferraduras. Faziam ainda objetos úteis do quotidiano como camas, lavatórios ferrolhos e trempes. O ferrador dominava a arte de ferrar, ou seja colocar ferraduras no casco de animais (profissionais esses que nem sempre as forjavam). Por vezes, estes dois ofícios eram acumulados por uma só pessoa. No Pereiro é possível visitar “A Casa do ferreiro”, um interessante Pólo Museológico “onde é possível conhecer esta tradição. Nesta aldeia ainda habita o último ferreiro que trabalhou nesta oficina e que alimenta o desejo de partilhar a sua arte com quem a queria conhecer.

A cestaria é praticada nesta região sobretudo com cana e esse ofício competia (e compete ainda) aos homens. Os abundantes canaviais nas margens do Guadiana e seus afluentes, ou junto aos barrancos, providenciavam a matéria prima para criação de canastras, cestos, cestas e cestinhos, tão úteis nas lides agrícolas, piscatórias e domésticas. Conhecem-se ainda três mestres cesteiros a laborar.

Antonio Ramos (2)

A lã e o linho eram os materiais utilizados na tecelagem artesanal que se fazia em grande número em meados do século passado em várias freguesias do concelho de Alcoutim. Esta região conheceu muitas tecedeiras a trabalhar nos teares feitos artesanalmente em pinho. Neles se teciam as curiosas “Colchas de carapulo” (também conhecidas por “mantas de albardarura” ou “mantas de aparelho”) que serviam para utilizar nos animais como enfeite em dias festivos, festas pagãs ou religiosas. O “carapulo” é uma técnica em que se repuxa o fio de maneira a formar figuras, na maior parte das vezes geométricas que se repetem harmoniosamente. A linha branca da teia contrasta com o azul anil ou preto da lã tingida nessas cores. Das muitas tecedeiras, restam agora menos que as que se possam contar pelos dedos de uma mão.

Mas a criação de artefactos em Alcoutim não se limita àqueles transmitidos de geração em geração ao longo dos séculos. O engenho humano joga mão de outros recursos capazes de mobilizar, como a criatividade. Há perto de 30 anos que Martinlongo é conhecido pelas suas características bonecas de juta, miniaturas que retratam profissões típicas da região e atividades tradicionais. Começaram a ser produzidas na sequência de um curso de formação profissional que originou a criação da “Flor d’Agulha”. Esta pequena unidade artesanal, especializada em produção de miniaturas em juta, laborou até há poucos anos atrás. Duas artesãs ainda trabalham nesta arte.

Outras vezes, nunca se chega de facto a saber a história de algumas artes nascidas da propensão humana para a criatividade. É o caso das cestas de palhinha do “Fernandilho”, uma pequena povoação recolhida na lonjura, a 40 km da sede de concelho. É lá que vive uma artesã que aprendeu com o seu tio a aproveitar uma erva fina, a que chama palhinha, para fazer cestas e chapéus. Dessa erva aproveita os caules, que junta em feixes, e cose em forma de espiral. Não é muito diferente da técnica de cestaria oriunda do Norte de África que em Portugal se chama de “breza”, mas ninguém sabe explicar como é que ela foi parar ao Fernandilho.

Cestaria em palhinha (5)

O Projecto TASA está em Alcoutim a inspirar-se nestas histórias, as contadas pela memória coletiva de criar a partir das práticas ancestrais, e também estas outras que falam de novas formas de criar a partir do que a terra dá.

Brevemente, irão nascer os resultados desta inspiração.

Nota: O Projecto TASA está a colaborar com o município de Alcoutim em ações de dinamização das artes e ofícios que passam, além de outros aspetos, pela criação de produtos feitos com artesãos do concelho.

Projeto TASA – Técnicas Ancestrais Soluções Atuais
  • PROMOTOR:
    CCDR
  • GESTÃO DO PROJETO:
    ProActive Tur
  • APOIOS:
    Algarve 21